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terça-feira, 29 de julho de 2008

Gastroenterologia

Espaço para incluir artigos sobre gastroenterologia em geral.
Vou começar por um texto que na verdade é uma compilação de informações dirigidas para o público leigo sobre síndrome do intestino irritável.
Débora Poli


Síndrome do intestino irritável

Cerca de 50% dos pacientes que procuram atendimento gastroenterológico sofrem de problemas funcionais, ou seja, não apresentam lesão orgânica no aparelho digestivo demonstrável pelos métodos de investigação atuais. Entre as doenças funcionais, a síndrome do intestino irritável (SII) é a mais freqüente.
A síndrome do intestino irritável é um distúrbio intestinal funcional comum caracterizada por desconforto abdominal recorrente e função intestinal anormal. O desconforto freqüentemente se inicia após a alimentação e desaparece após a evacuação. Os sintomas podem incluir cólicas, náuseas, distensão abdominal, gases, constipação, diarréia e uma sensação de evacuação incompleta. Pode estar associada a graus variados de depressão ou ansiedade.
Entre os que procuram atendimento médico, a maioria são mulheres, geralmente no final da adolescência ou antes dos 30 anos.

Recentemente, numa reunião internacional em Roma, estabeleceu-se um consenso para o diagnóstico da SII, conhecido como Critérios de Roma III. São eles:
Presença de dor ou desconforto abdominal que ocorra:
Com freqüência de três ou mais dias por mês, nos últimos três meses
Presente há pelo menos seis meses
Acompanhada de pelo menos duas das seguintes características:
• Alívio com defecação e/ou
• Associado à mudança na freqüência defecatória e/ou
• Associado à mudança na forma (aparência) das fezes
Desconforto significa uma sensação incômoda, não descrita como dor.

Vários sinais e sintomas foram apontados como elementos de reforço ao diagnóstico da SII:
a. esforço excessivo durante a defecação;
b. urgência para defecar;
c. sensação de evacuação incompleta;
d. eliminação de muco durante a evacuação;
e. sensação de plenitude ou distensão abdominal.

Os pacientes com SII com predomínio de diarréia apresentam mais de três evacuações/dia, fezes líquidas e/ou pastosas e necessidade urgente de defecar. Já os com SII com predomínio de obstipação (ou constipação) evacuam menos de três vezes/semana, as fezes são duras e fragmentadas (fezes em “cíbalos” ou “caprinas”), e realizam esforço excessivo para evacuar (evacuações laboriosas). A dor abdominal tem localização, característica e intensidade variáveis. O mais comum é localizar-se no abdômen inferior, principalmente no lado esquerdo. Pode ser em cólica ou constante, com ou sem irradiação para as costas e o tórax. Caracteristicamente, a dor piora após as refeições, alivia com eliminação de gases e fezes e, dificilmente, faz com que o paciente acorde à noite.
No passado, a síndrome do intestino irritável era atribuída apenas a alterações emocionais. Hoje se sabe que o intestino tem enervação própria e hormônios que regulam sua capacidade de excretar. Como se desenvolve?
A causa da Síndrome do Intestino Irritável (SII) não é bem conhecida e, portanto, não se sabe como, a partir de um certo momento, uma pessoa passa a apresentar os sintomas.
Acredita-se que alterações nos movimentos que propagam o alimento desde a boca até o ânus (motilidade intestinal) e nos estímulos elétricos, responsáveis por esse movimento intestinal, estejam envolvidos.
Já se observou, também, que indivíduos com Síndrome do Intestino Irritável, têm um limiar menor para dor proveniente da distensão intestinal, ou seja, menores volumes de gás ou fezes dentro do intestino são capazes de gerar uma sensação, interpretada pelos pacientes como dor, enquanto que indivíduos sem a síndrome provavelmente não seriam perturbados por estímulos semelhantes.
Alterações psicológicas como depressão e ansiedade são mais freqüentes em pacientes com Síndrome do Intestino Irritável que procuram atendimento médico. É possível que essas pessoas percebam e reajam de maneira mais intensa a estímulos menores.
Aspectos psicológicos
Dos pacientes com SII, 85% dizem que os sintomas coincidiram ou foram precedidos por problemas psicológicos como conflitos emocionais, grandes tensões, morte de parente etc.
Também é comum que problemas emocionais exacerbem os sintomas. Os pacientes demonstram, amiúde, sinais de ansiedade e depressão; são “poliqueixosos” e hipocondríacos; muitos já passaram por vários especialistas, pois seus sintomas não melhoram ou, principalmente, por acharem que são portadores de câncer.
Sintomas dispépticos
A maioria dos pacientes com SII comenta sobre distensão abdominal, eructações (arrotos) e flatulência freqüentes e abundantes. São sintomas inespecíficos e são atribuídos ao excesso de gás intestinal. Entretanto, estudos quantitativos do volume gasoso intestinal em pacientes com SII revelam que a maior parte deles tem volumes normais de gás. Porém, mínimas distensões intestinais provocadas geram sintomas nesses pacientes, sugerindo uma diminuição do limiar de tolerância à distensão.

Como o médico faz o diagnóstico?
O diagnóstico é feito com base nos sintomas apresentados pelo paciente. Para que se possa firmar o diagnóstico não deve haver alterações ao exame clínico ou em exames laboratoriais.
Geralmente, o médico solicita exames gerais de sangue e de fezes capazes de detectar as parasitoses mais freqüentes.
Esses exames não têm a intenção de confirmar o diagnóstico de Síndrome do Intestino Irritável, e sim, de afastar outras causas de sintomas semelhantes, já que não há exame capaz de comprovar o diagnóstico de SII.
Em indivíduos com início dos sintomas após os 40 anos e naqueles com história familiar de câncer de cólon, uma avaliação através de colonoscopia, ou, menos freqüentemente, de Enema Opaco com Duplo Contraste, é indicada para afastar essa possibilidade.
A presença de febre, sangramento, anemia, perda de peso, sintomas durante a noite e diarréia de grande volume e freqüência não são características da Síndrome do Intestino Irritável e devem desencadear a investigação de outra causa.

Como se trata?
Uma dieta rica em fibras costuma ser útil em pacientes com queixa de constipação, e o melhor trânsito intestinal pode ajudar pacientes cuja queixa é flatulência excessiva.
Certos alimentos são mal tolerados pelos pacientes com SII. A confecção de um diário alimentar correlacionando sintomas com os alimentos ingeridos previamente pode ser capaz de detectar alimentos desencadeantes.
Alguns vegetais como feijão, repolho, couve-flor, cebola crua, uva e ameixa são causadores de dor ou distensão em certos pacientes. Vinho, cerveja e alimentos ou bebidas com cafeína (café, chá, etc) também podem ser mal tolerados. Produtos que contém sorbitol, como o chiclete e as balas sem açúcar devem ser evitados. Algumas pessoas têm uma tolerância diminuída ao leite e derivados o que pode desencadear a diarréia. Para essas pessoas a diminuição da ingestão desses alimentos pode melhorar os sintomas.
O uso de bebidas gaseificadas pode levar gás aos intestinos e causar dor abdominal. Comer ou beber rapidamente, mascar chicletes, fumar, inspirar ar pela boca quando nervoso pode levar a algumas pessoas a engolir grandes quantidades de ar, os gases também podem ser produzidos por certos alimentos como feijões, cebolas, brócolis, repolho, uva e ameixa. Comer mais lentamente ou minimizar os alimentos formadores de gases pode ser útil.
Retardos desnecessários da defecação deveriam ser evitados. Porque quanto mais tempo as fezes permanecerem no intestino, mais fluídos podem ser absorvidos, dificultando ainda mais a evacuação. O uso de certos laxantes pode perpetuar a constipação porque o intestino pode se tornar dependente deles. Pessoas com a síndrome não deveriam tomar laxantes fortes.
Se fontes modificáveis de estresse podem ser descobertas, resolvê-las pode ajudar. Exercícios regulares também podem ajudar a normalizar a função intestinal.
A grande maioria dos pacientes melhora com a compreensão de sua doença e com alterações alimentares. Casos em que algum sintoma é especialmente incômodo, medicamentos sintomáticos dirigidos diretamente para tratar a diarréia, constipação ou dor abdominal podem ser usados.
Em alguns casos, o uso de medicação antidepressiva é benéfico.
Deve-se ter grande cautela ao usar medicamentos sobre os quais há muita propaganda, porém que não tenham sua real validade e, principalmente, segurança, bem estabelecidos.
Deve-se evitar o uso de laxantes e tranqüilizantes, pois causam dependência com certa facilidade.
Terapias como relaxamento, psicoterapia e exercícios físicos podem ajudar no controle dos sintomas.

Apoio psicológico
Pacientes com SII são geralmente ansiosos, tensos, deprimidos e às vezes repletos de “fobias”. Um bom relacionamento médico-paciente é fundamental para o êxito do tratamento. É importante que o diagnóstico seja explicado, tanto o caráter funcional e recorrente da doença quanto sua não evolução para o câncer. O ponto central da abordagem psicológica é fazer com que o paciente reconheça a sua disfunção, os fatores que a desencadeiam, e aprenda a lidar com eles. Raramente o psiquiatra precisa ser consultado, mas o encaminhamento a ele não deve ser retardado nos casos indicados.

Como se previne?
Como o conhecimento das causas e mecanismos da doença ainda são pouco conhecidos, não se sabem formas de prevenção.
A busca de atendimento médico para esclarecimento do quadro e manejo de sintomas específicos, evita que a doença cause maiores conseqüências na vida dos pacientes.
A Síndrome do Intestino Irritável deve ser lembrada como uma doença:
crônica e recorrente,
sem prevenção ou tratamento específico,
com características altamente benignas,
sem risco aumentado de evoluir para qualquer doença mais grave, e que,
geralmente, permite que seus portadores mantenham inalteradas sua
qualidade de vida e produtividade.

Referências bibliográficas
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terça-feira, 15 de julho de 2008

Primeiro blog

Primeira vez na criação de um blog. O objetivo é manter um site principalmente com assuntos de trabalho, vou começando por aqui...